domingo, 16 de agosto de 2009

Amizade: Fundamento básico na relações.

Brasília, 08 de agosto de 2010.

Grande Bruno,
Meu amigo há quanto tempo? Quanto anos não te vejo, não converso contigo, não sento à mesa para jantar aquele macarrão especial que fazíamos aos domingos? Nossa! Só na saudade. Ainda lembro quando inventamos de colocar o guaraná no bolo quando ele saiu do forno. Não foi uma experiência boa, acho que Ana Maria Braga errou na receita. E você? Como vai aí em NYC em seu pós-Doc em psicofarmacologia?
Bem, aqui em Brasília tá um calor e uma secura de lascar, já conhece, né? Ou melhor, acho que até esqueceu, pois não voltou desde que ganhou a bolsa aí, quanto tempo faz, 8 anos?
Embora o nosso contato tenha reduzido bastante, preciso conversar, esclarecer umas idéias, uns pensamentos, umas ações. Estou passando por um momento desconfortável, um momento que não é bem visto. Já decidi muita coisa em relação a isso, já vivo nessa nova realidade, infelizmente, há muito medo, há muita desilusão. Muitos preconceitos. Muitos estereótipos fazem da comunidade pensar só uma coisa- que se formos combinar, não é legal mesmo- e não é bem assim. Exemplo vivo disso: eu.
Ter uma vida dupla não é simples, não faz bem a saúde, nem legal para a cabeça. Sem falar das mentiras que precisamos contar para os queridos íntimos. Ok, vou logo ao assunto. Sexta passada, uns dos dias de folga do Hospital, resolvi sair e curtir a noite. Foi o que fiz, porém sair para um lugar novo. Queria variar, parei no Blue Space no final das contas. Aí que começa a história.
Eu fui lá, pensando em dançar, até que encontrei um amigo antigo, de turma da UnB, e já lá dentro, fomos conversar, relembrar os velhos tempos. Ele já na berita resolveu falar mais que o normal, como todo o ser bêbado faz. Quando do nada ele começou a chorar. E chorou muito, se desse teria feito um rio fácil. Todos começaram a olhar, então o levei para o estacionamento.
Perto do meu carro, eu ofereci lenço, não aceitou, e disse que só queria se abafar. Atendi ao pedido, não se tem muita opção nessas horas. Derrepente ele vira e me lasca um beijo, na hora fiquei sem muita reação, aí eu o empurrei, e disse pra ficar longe. Ele pediu desculpas, e isso não ia acontecer novamente. Eu, ingenuamente acreditei. Não podia deixar ele ali daquele estado, foi aí que a noite acabou, eu o levei para casa. Na casa dele, eu o ajudei a subir no apto dele, e lá pedi para ir ao banheiro, quando voltei à sala, ele já estava bebendo outra vez. E pediu que eu ficasse pra fazer companhia. No fundo eu queria, mas tava com medo de outros beijos, acabei que fiquei mais um pouco, e não deu em outra, ele me agarrou outra vez. Pronto! Aí houve resposta.
Sei que no começo parece meio estranho essa situação. Diferente até demais. Hoje em dia, tenho um relacionamento estável, forte ao lado daquele rapaz. Espero que logo você o conheça. Esse era o meu pequeno segredo, e espero revelar ele a família. E para os amigos. Mostrar que há jeito de felicidade entre pessoas de mesmo sexo. Conheci muitos casais por parte do Gabriel, e junto com ele cresci bastante ao formar nossa relação. Foi uma mudança em tanto. E provavelmente afetará minha família de Generais. Estou confuso, perdido. Agora que entra você e suas palavras. Aquelas que usa sempre no momento certo. Que nos faz escolher o caminho certo.
Espero poder confiar em você, contar com você. Saber que o velho amigo e sua velha amizade ainda estão ao meu lado. Posso contar com sua ajuda?
Um grande abraço.

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