segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A "Gaveta"

Uma história que extravasa amor. Uma história que possui comédia. Uma história que comprova que, realmente, o destino é preso no nosso pescoço quando nascemos.  Não é fácil conviver em casamento, em namoro, sempre temos nossos pontos baixos, altos e de explosão! Não obstante, já pensou como é amar alguém, porém não ficar junto com esse alguém, não por falta de sorte, ou porque o destino conspira contra, pelo o contrário, o destino favoreceu, e muito, que esse casal ficasse junto, mas só depois dos seus 60 anos que há o efetivo término da vida de ambos aos cabelos brancos de cada um. Mas agora estão terminando juntos!
Estava eu tomando um café, bem forte por sinal, acompanhado da presença de minha tia, a qual não é freqüente em casa, já que mora na Alemanha e de uma amiga da família, e olha que é daquelas amigas de anos, de geração presente mesmo, ou seja, histórias sobre as famílias, todos compartilhamos. E aí, em meio as conversas, uma chama minha atenção: essa amiga da família, Lissieux, conta do acidente que teve- nada grave, e sim, muito hilário. Pois bem, como qualquer dia, saiu do seu consultório onde trabalha como psicóloga, chamou um amigo que a companhasse e foram juntos de carro até a lotérica. Até aí, normal, até ela sair do carro, fechar a porta, e escorregar, e nisso, em meio a sua queda ela berra” Amo-o-o-o-o-o-o-o-o-r-r-r-r-r-r-r!!!”, eu nada bobo, pesquisei na mente, “amor? Desde quando ela namora ou é casada?”. Daqui começa nossa história de hoje.
- André, ixeeee, meu filho, história longa essa. Quer mesmo saber? Perguntou minha tia.
- Claro! Respondi corajoso.
E foi aí que minha tia, foi pra janela dos fundos da cozinha e ascendeu um cigarro, logo atrás, Lissieux foi ascender o dela, percebi então que ia ser mesmo uma história grande.  Bem, eu na cozinha, com as duas fumando, podia muito bem ir participar do fumódromo, como não fumo, fui lavar as louças do lanche.
            - Sabe André, conheci esse homem aos meus 9 anos, na escola. E sempre estive presente na vida dele, quanto ele na minha. Conheci ele por um acaso, e desde então esse acaso vem sendo bem freqüente. Começou a passar a história a limpa para mim.  
            - Quando menina, morava ali, na Asa Sul, estudava na escola classe ali ao lado, e lembro bem desse tempo, viu? Lembro muito bem de uma menina chata pra caralho, oh menina nojenta aquela. Enfim, nessa época, eu e o Fernando brincávamos na escola e eu tinha sim uma atração por ele, e ele por mim, visível. Até que um dia meus pais o conheceram, e veio a primeira surpresa: os meus pais já conheciam o menino, ela é filho de um amigo do meu pai, e quando éramos bebês, brincávamos juntos.
            - Nossa Lissieux, é para vocês se conhecerem mesmo, tava escrito! Disse fazendo uma alusão à novela “O Clone” e quase terminando de lavar a louça da pia, então comecei a ir mais devagar e procurar mais louça para lavar, por que, né? A história tava começando, se hoje ela tem 58 anos, e aí ela ainda estava com 9 anos. Imagina a situação.
            - Pois é André, nessa época éramos amigos, mais logo me mudei, outra quadra, outra  escola, então perdi o contato, disse ela sendo interrompida pela minha tia.
            - Primeira vez que perdem contato. Foi o que minha tia falou quando interrompeu. Eu não tinha entendido o que minha tia queria adicionar ali, porém nem me importei com aquilo e logo então a Lissieux continuou...
            - Quando entrei na Faculdade, comecei o meu curso, e logo então, veio os namorados, e aí, comecei o meu romance com o Victor, e logo em dois meses já estava casada e no terceiro mês, grávida. E aí, em uma saída com o Victor, esse meu marido encontra um rapaz, outro amigo dele, e me apresentou. Sabe, veio um momento de epifânia quando toquei na mão dele. Senti uma alegria, um calor misterioso, uma coisa que parecia mística e me perguntei, porque que esse homem faz minha pele se arregalar tanto assim? Sem saber continuei a ficar. Fui para  casa, pensando no homem. Dias dali, fui vê algumas fotos do Victor criança, e percebi que ele estudou na mesma escola que eu, na mesma idade e geração. Resolvi perguntar sobre isso, e daí, a surpresa, ele estudou lá na época mesmo, porém ele foi do 3º ano “B” e eu do “A”, mas não me lembrava dele, e aí nesse momento, começamos a falar da vida até que o assunto ficou nos amigos da escola, e ali ele disse que aquele rapaz que ele me apresentou na festa, era um dos colegas dele desde lá, da terceira série, e aí ele me mostrou a foto. André! Não podia ser engano, aquele menino ali na foto era o mesmo Fernando, certeza, E estava no canto da foto com uma menina sentada na frente dele, e olhei para aquela menina, e veio o ódio:
- Nossa, lembro dessa menina aqui na frente dele, e eu a odiava!
- Que engraçado, ela é a irmã do Fernando, disse o Victor sem perceber a raiva que a Lissieux ficou só de pensar na menina da foto.
Eu soltei uma risadinha, e percebi que a louça da pia tinha terminado, peguei então as panelas.
Continuou a Lissieux então.
- Agora tava explicado o porquê do meu calor todo pelo o rapaz, foi o meu primeiro amor!
Anos se passaram, minha filha já criança. E um dia fui almoçar em uma festa que um casal amigos estava oferecendo. Cheguei com minha filha e meu marido, e logo quando sento, quem vejo, o Fernando chegando com sua mulher e seus dois filhos. Ele logo me reconheceu, e veio me comprimentar, até que em um momento, quando a sós, ele me disse: não consigo parar de pensar em você, desde daquele dia que senti minha pele aquecendo o corpo todo com seu contato, disse o Fernando bem baixinho e bem ofegante.
- André, vi que o que ele estava para fazer era errado, e então resolvi falar uma desculpa para o Victor que precisava ir embora quando ele voltasse a mesa, e assim foi, fomos embora, mesmo sem saber de nada, Victor me levou para casa, mas não posso mentir à partir dali eu estava  conectada ao rapaz, ao movimento dele em minha mente, e todo vez que pensava nele, me tocando e falando perto de mim, sempre subia um calor enorme, um prazer bom de sentir.
- Bem, outra vez perdi o contato do rapaz, nem ele me procurou e nem fui procurar ele, mas como nem tudo na vida é pra sempre, resolvi terminar com o Victor, já não estava mais dando certo. Após o divorcio, eu conquistei um lugar pra viver e dar uma vida boa pra minha filha. E nisso, feliz, resolvi ir almoçar na rua, e quando chego no restaurante, quem senta na minha mesa, nada mais que ele, Fernando.
- Putts! Exclamei com força com minha cara de: não acredito!”
            - Realmente já estava escrito, né meu filho. Completou minha tia ao me ver com cara pasma.  
- André, quando ele disse que estava separado também, pronto, esperar pra quê? Lasquei uns beijos e fomos comemorar em um motel por aí. E claro, começamos a namorar. E a notícia se espalhou, logo Victor soube e a ex do Fernando também.
Minha tia começou a rir, e disse: conte a parte que a ex do Fernando te ligou quando você e o Fernando estavam no motel.
- Ahh, sim, continuou a rir com minha tia.
Lissieux então, sem demorar, disse rindo: André, acredita que ela me ligou e disse que naquele momento ela estava com o Victor em um motel, disse assim: oie, estou com seu marido. Eu respondi a ela: e eu com o seu, bom ele , né? E desliguei o telefone.
Nesse momento dei uma risada, e comecei a rir, compartilhando as alegrias dentro da cozinha, e aí, a louça tinha acabado, como desculpa, peguei as que estavam na máquina de lavar e comecei a lavar.
- Depois de uns tempos, o Fernando começou a falar em casamento. EU casar? De novo? Começar outra vida?! Não. Então, infelizmente o larguei. Mesmo sofrendo com a saudade. Disse Lissieux bem desconformada.
- André, os anos se passaram, e eu encontrei o Victor em um a noitada em um bar com os amigo. Sabe aquela recaída pelo o ex, pois é, não foi diferente, ele tava solteiro mesmo. Fomos terminar a noite, em outro motel.
- Pronto, não bastou dois dias, começamos a namorar outra vez, Victor e eu. Nesse momento estava de mudança de consultório, e fiz novas amizades, e uma delas foi a Edna, uma pessoa amiga, boa e bem divertida. Em um dos momentos com a Edna, ela me chamou para ir em uma festa que a prima iria fazer. Claro que fui. Mas quando cheguei lá, sentei, e peguei minha coca, e alguns minutos depois, Fernando aparece com uma nova mulher e 5 filhos, dois conhecia, agora ele tem mais três. E, bem surpreso, ele me olha e fala: “oi”. Como ele teria chegado aqui? Por quê? Então, a prima da Edna, era nada mais que aquela menina nojenta da escola. E em um dos estantes, o Fernando conseguiu ficar a sós comigo, e aí ele solta: não fuja, fica comigo, é impossível te esquecer! E enquanto ele falava, sua mãe subia na minha, aquela mesma sensação quente, gostosa, voltara. Entrei em pânico, corri da festa o mais rápido possível.  
- Nossa Lissieux, é armação, é? Disse eu assustado com esses encontros.
- Parece, né? Mas não era, afirmou ela com sagacidade.
- logo então continuei minha vida, pensando naquele ultimo reencontro com Fernando. E sem querer, eu percebi que ele trabalhava perto de mim, e em um dia desses, vi ele passando. Não agüentei, mesmo namorando o Victor, precisei do Fernando. Ele, lógico, aceitou. Foi certo, comecei a namorar com os dois. Mas não durou muito, porque os dois começaram a falar de casamento. Qual é desses homens? Desistir dos dois, sumiço geral, outra vez.
- Nossa, que vida agitada essa, como assim? Lissieux é mesmo pra você ficar com ele, esse Fernando precisa de você, tadinho dele. Argumentei com pena do cara.
- André, não demorou muito, minha mãe teve o câncer, se lembra? Perguntando com um olhar apontado para mim, pois mais triste de lembranças dolorosas. Respondi que sim. Então ela continuou: nessa época, fiquei péssima, triste. Não agüentava, até que precisei da força de um alguém, não deu outra, procurei o Fernando. Ele que me erguei, ele que não me deixou cair pela morte da minha mãe, ele que me ajudou e suportou aquela minha dor. Eu muito grata, queria ele, e ainda quero. Ele realmente sabe me entender, cuidar de mim. Agora é minha vez, eu quero mesmo casar com ele. Ele aceitou, mas só caso com uma condição, quando ele arrumar emprego e se livrar da esposa.
- E o que falta? Perguntei indignado.
- Sabe, ele é desempregado, não tenho como sustentar ele, e minha filha, infelizmente. E ainda tenho minhas dívidas dos tratamentos de minha mãe. E a esposa dele sabe que a gente se encontra sempre, mas ela não pode tirar ele de casa, porque a casa é dele. E ela não pode sair, porque ela estar mais endividada que tudo. Então fica nessa situação chata, e bem desconfortável. E ele não pode simplesmente dispensar a mulher, mãe de seus filhos assim. Então, estou esperando ele vivendo a minha vida e sendo feliz. Realmente só falta isso e aí sim, a gente casa, e fica velhos juntos, É esse nosso plano.
- E aí? E o ciúme dele em relação a outro homem? Disse eu com quem não quer mais nada.
- Sabe, ele tem. Ele vive dizendo que eu o coloco numa gaveta nos finais de semana, já que dia de semana eu preciso trabalhar. E quando vou curtir, não é sempre com ele. Até ele se resolver. Guardo-o na gaveta mesmo, mas na gaveta do meu coração. Ela finaliza a história.

Isso sim é o destino galera. É isso, quando escrito, nada podemos fazer, só aceitar e pronto. 

Um comentário:

  1. Nossaaaaa e que gaveta essa hein!!!
    Quase uma estante inteira pra tanta história!

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